Artigo: A (In)visibilidade da lutadora de Jiu-Jitsu
* O universo esportivo é caracterizado como ambiente masculino e, ainda que a mulher esteja em uma constante busca por reconhecimento, quando seu sucesso como atleta não é condicionado à sua beleza, o tratamento noticioso relaciona o comportamento feminino à fragilidade no esporte. Por isso, apesar da presença de mulheres atuando como atletas profissionais ser crescente, elas ainda sofrem com a valorização de outros elementos em detrimento de sua performance atlética.
As mulheres, cabe a imprensa noticiar a “Musa do Jiu-Jitsu”, a “Gata de kimono”, a “Bela do tatame”. Acessar portais e revistas especializadas é certeza de encontrar várias dessas expressões, em uma perfeita coleção de chamadas machistas e objetificadoras das atletas mulheres. Para a mídia, antes mesmo de serem atletas de um esporte tipicamente masculino, as atletas precisam ser belas e femininas. Não basta todo o esforço físico necessário para se destacarem no tatame, nem os desafios enfrentados por muitas dessas mulheres para convencerem as famílias de que vale a pena investir na carreira esportiva, nem mesmo a dificuldade para conseguir patrocínio. Nem mesmo o talento esportivo parece contar mais do que esta busca recorrente por “musas”.
Ainda que o esporte seja um fenômeno cuja dimensão social abrange valores culturais de diferentes grupos, a mulher tem uma trajetória de luta para se inserir nessa realidade. Prova disso é que a relevância atribuída ao esporte olímpico mundial é incontestável, mas a participação feminina ainda é um fenômeno social recente. Portanto, a inclusão foi um acontecimento gradual e semelhante ao processo de aceitação da mulher nas demais esferas da sociedade – inclusive nas consideradas áreas “masculinas” do mercado de trabalho. No entanto, a relação entre a mulher e o esporte vai muito além da sua conquista por espaço: quando se trata de representá-la, a mídia se aproxima da valorização do corpo ou de suas emoções em detrimento da técnica esportiva. Lamentável!
Na próxima semana falaremos sobre “a falta de empregabilidade para as mulheres no Jiu-Jitsu”.
*Luciana Neder é faixa-preta de Jiu-Jitsu e gestora de projetos da SJJSAF.



